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segunda-feira, 31 de agosto de 2009

O poder da palavra - "Edifício Master"

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Coutinho corrobora a força da palavra em ato

Lendo um trabalho de Consuelo Lins – a idealizadora deste documentário, aliás –, aprendi bastante sobre Eduardo Coutinho e pude comparar com pouco que sabia e que reparei nesta película.

O documentário de Coutinho é notoriamente a arte de filmar a palavra em ato, pura e sincera (ou algo muito próximo disso) de seus protagonistas: figuras geralmente interessantíssimas, que nos brindam relatando, emocionados, fragmentos de suas vidas. É deslumbrante, pra mim, o simples ato de sentar e escutar uma pessoa relatar, de coração aberto, sua história, seus momentos ou mesmo suas frustrações. Também por isso fiquei extasiado enquanto admirava esta obra.

Um documentário, quando bem feito, é fascinante. É preciso, no entanto, muito cuidado para lidar com o gênero. A linha entre o insuportável e o inebriante é tênue. Coutinho, porém, consegue extrair o máximo de seus entrevistados em Edifício Master (2002) o que, inevitavelmente nos cativa, com prazer, à obra. De forma incrível consegue, em meio à miscelânea que compõe o Master, depoimentos inacreditavelmente viscerais (mesmo os que se diziam avesso a entrevistas) de cidadãos comuns, muitos aparentemente inócuos.

A menos que esteja redondamente enganado, identifico com clareza o cinéma verité (cinema-verdade), à medida que autor se propõe a mostrar o deslocamento da equipe ou ainda quando se preocupa em expor justamente o que fora perguntado. O que em nada compromete a estrutura cinetográfica final. Pelo contrário. Eis a “verdade da filmagem”, surgida na Europa.

Edifício Master, de Eduardo Coutinho, é vencedor de inúmeros e inquestionáveis prêmios. Pudera.

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sábado, 29 de agosto de 2009

"Estômago": Na vida há os que devoram e os que são devorados.

Estômago( Marcos Jorge), é aquele tipo de filme que quando acaba, seus olhos estão brilhando, sua boca está aberta e você quer ligar pra sua lista telefônica inteira para indicá-lo. Começando pelo fato do filme não ter nenhum ator conhecido pelo " povão", (como os globais, atuais rede record - ha ha) já instiga aos curiosos e aos undergrounds a vê-lo. O resto é lucro. No início do longa, nos deparamos com Raimundo Nonato (João Miguel) narrando em off, dono de um sotaque surreal, que soma o cômico com o regionalismo. Mesmo com o decorrer de dois seguimentos temporais, o filme não deixa o espectador confuso, pelo contrário, prende cada vez mais a atenção do mesmo. Nonato sai do nordeste para o sudeste do Brasil, em busca de novas oportunidades. Logo na sua chegada, tentando se adaptar à nova região, se depara com a oportunidade de trabalhar na cozinha de um buteco, onde atuará como "fritador de coxinhas". Depois de um tempo trabalhando ali, ele é convidado para um restaurante italiano ( o filme é co-produzido pela Itália), que o transforma num conhecedor completo da culinária. Enquanto isso, vemos cenas alternadas de Nonato num presídio, que deixa o público ansioso para descobrir o por que dele estar lá. Acredito que isso é tudo que se precisa saber sobre "Estômago" para querer vê-lo. Um dos melhores filmes que assisti esse ano ( o filme é de 2007 mas eu sofri um "delay"), traz uma atuação brilhante do ator João Miguel, que ganhou pela segunda vez o prêmio de melhor ator do festival do Rio de 2007 ( anteriormente pelo filme "Cinema, Aspirinas e Urubus” - Marcelo Gomes). Eu poderia comentar sobre cada aspecto técnico do filme, da iluminação a edição, mas ele continuaria impecável. Só faria uma modificação - mínima - esta seria tirar o Paulo Miklos do elenco, ele faz uma pontinha, mas está muito "O Invasor" ( trocadilho barato). Antes que eu me esqueça, vale ressaltar a trilha sonora, que parece um assovio ,embala o filme perfeitamente caindo como uma luva. Pra quem gosta de um humor negro, corre já pra locadora ou pro torrent.


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sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Verônica

VERÔNICA é professora da rede municipal e agora, na iminência de se aposentar e passando por sérios problemas pessoais, está exausta e sem a paciência. Um dia, na escola em que trabalha, ela percebe que ninguém veio buscar Leandro, um aluno de oito anos e decide levá-lo em casa. Ao chegar no alto do morro, encontram a polícia e muito tumulto. Traficantes mataram os pais da criança e querem matá-lo também. Verônica foge com o menino. Ela procura ajuda e descobre que a policia também está ligada ao assassinato. Sem poder confiar em ninguém, ela decide esconder o garoto.
Verônica é um filme agitado. Por um momento, mas apenas por um, me lembrou o filme alemão "Corra Lola, Corra", embora este seja muito mais eletrizante. O filme aborda inúmeros assuntos como decadência do ensino público, desrespeito com os professores, sistema de saúde abominável, violência e corrupção de policiais.
O que me intriga é que mesmo com essa gama enorme de assuntos a serem tratados, o filme fica repetitivo e previsível. Em cada cena você se encontra "adivinhando" o que vai acontecer, inclusive, se você for cinéfilo [- ou não], conseguirá prever as falas também. Não tenho dados se o filme foi feito com pouco orçamento ou não, mas fica nítido que a fotografia, entre outros, foi infeliz, dando a impressão de ser um filme caseiro. Os personagens parecem perdidos entre si. Não sei o que aconteceu com Maurício Farias (diretor), para deixar os atores tão desconectados. Andréa Beltrão faz bem seu papel, embora não tenha nenhum desempenho espetacular, dando minha preferência à sua atuação divertidíssima em "A Grande Família", também dirigida por Maurício. A única coisa que salva na trilha sonora é a música da primeira cena, que vem com B. Negão empolgando o espectador. Depois disso, não espere escutar mais nada. Só músicas de tensão, enquanto Verônica foge incansavelmente de "todo mundo", que acabam com o climax ao invés de proporcioná-lo. O filme também conta com um fabuloso final... Clichêzão.

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quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Perfeita sinfonia em "Reine sobre mim"

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Don Cheadle e Adam Sandler transcedem a harmonia prevista no roteiro


Já não mais nutria esperança em assistir, ainda em vida, um filme de outro gênero interpretado pelo caricato Adam Sandler. Foi quando surpreendentemente fui apresentado por sugestão (agradecimentos aqui à Vanessa, entusiasta da 7ª arte), incrédulo, a Reine sobre mim (Reign Over Me, 2007). Muito embora tudo indicasse ser este, de fato, um filme do gênero “drama”, antes de assisti-lo, ainda esperava algo mais comédia do que drama. Feliz e finalmente, porém, o estereotipado ator transitou pelo gênero. Vale ressaltar: seguro e desenvolto. Conseguiu transparecer toda a angústia que o personagem exigia.

No longa de Mike Binder (também atuante), Charlie Fineman (Sandler) é agora um perturbado e isolado cidadão, que perdera sua família (esposa, filhas e, registre-se: um poodle) em um acidente de avião; Alan Johnson (Cheadle) é um dentista – e antigo amigo de faculdade de Charlie –, cuja vida é moldada por sua esposa (Jada Smith). O destino (?), no entanto, trata de uni-los novamente, mostrando que ao contrário do que se imaginava, Johnson precisava de ajuda tanto quanto Fineman. São nitidamente figuras complementares, o que incrementa e acaba por interessar ainda mais a trama.

Com toda sua experiência, Don Cheadle é, sem dúvida, fator preponderante na bem sucedida e passageira transição de Adam pelo gênero, fazendo com que Reine sobre mim seja o que há de melhor (visto por mim) na medíocre carreira do ator.

O longa, embalado por oportuna trilha, conta ainda com a quase imperceptível atuação (?) da insossa Liv Tyler.

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domingo, 16 de agosto de 2009

Cine Majestic

Tendo como pano de fundo a famigerada “caça às bruxas” – perseguição aos aos comunistas ou simplesmente aparentes vermelhos – que infelizmente assolou boa parte do mundo, Cine Majestic (The Majestic, 2001) é impecável. Um belíssimo e comovente filme, dirigido por Frank Darabond [Um sonho de Liberdade, 1994] e (muito bem) escrito por Michael Sloane.

Peter Appleton (Jim Carrey) é um jovem e ambicioso roteirista de cinema que, por engano, é perseguido pelo governo macartista. Peter tem seu grande roteiro confiscado pelos congressistas. Atordoado, o jovem se envolve num grave acidente que lhe subtrai a memória. Peter acorda numa pequena cidade do interior da Califórnia e é confundido com um ex-guerrilheiro, referência ali e filho do dono de um cinema – The Majestic. Sem parâmetros, Peter Appleton, agora “Luke”, admite sua nova e entusiasta família.


The Majestic
consegue, ao longo de seus 152 minutos, ser crítico sem deixar de ser ufanístico, característica dos filmes norte-americanos.


Jim Carrey, primoroso, emplaca mais uma grande atuação no drama (a exemplo de Man on the Moon e The Truman Show), sem perder sua inerente graça, em perfeita sinfonia com Martin Landau, prova que pode facilmente transitar, incólume e com igual desenvoltura, por outros gêneros. Prova cabal de que é um excelente ator.


Com um roteiro que me fez lembrar o clássico italiano “Cinema Paradiso” (Nuovo Cinema Paradiso, 1988), de Giuseppe Tornatore, ouso dizer que The Majestic é "Cinema Paradiso" deste século.

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Invisibilidade continental - "Um grito de liberdade"

Do mesmo diretor de Gandhi (1982), Um grito de liberdade (Cry Freedom, 1981) é um registro biográfico (e político) baseado em livro de Donald Woods, acerca do pouco (ou nada) conhecido ativista sul-africano, Stephen Bantu Biko – mais uma das figuras oposicionistas ao regime inconcebível e truculento vigente à época.

Ambientado na África de 70, portanto ainda durante o apartheid, Biko (Denzel Washington – com sotaque carregado – em mais uma soberba atuação, que lhe rendeu indicação ao Oscar®) conhece e transforma o editor liberal de um importante jornal da região, Donald Woods (Kevin Kline), posteriormente encarregado de disseminar a palavra de seu novo amigo, Biko.

O arrebatador longa de Richard Attenborough é, sobretudo, um relato do horror, das condições bestiais que viviam
e o pior: vivem! , os residentes do continente africano, sob “égide” dos colonizadores. É infeliz e insuportavelmente acrônico. A África segue tão invisível quanto agonizante isso porque pedem nada muito além de condições minimamente humanas. Seguimos confortavelmente moucos.

Bela oportunidade, porém, para o mundo “descobrir” de fato! o continente, há no próximo ano, sendo a África do Sul anfitriã da Copa de 2010. Espera-se, portanto e a quem de direito, algo muito além do blush, batons e afins. A conferir.

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quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Linha de Passe

Linha de Passe – A vida é o que você faz dela (2008), de Walter Salles e Daniela Thomas, é ambientado na periferia da maior metrópole do país, e traz à baila um típico retrato de grande parte das famílias brasileiras.

Matriarca de uma família visivelmente desestruturada, Cleusa (Sandra Corveloni*) é uma empregada doméstica, mãe de quatro filhos (à espera do quinto) – sem pai; Dênis é o filho mais velho, pai e motoboy (há algo mais comum do que ser motoboy em São Paulo?); Dinho (José Geraldo Rodrigues) é frentista e recém convertido. Sua história nos traz a verdade das igrejas, abarratodas de fanáticos religiosos buscando algum refúgio em palavras ao vento. Dario (Vinícius de Oliveira) traz consigo o mais batido de todos os cenários: um rapaz humilde, cujo sonho de ser jogador de futebol nos parece a única saída para poder proporcionar uma melhor vida aos seus; junto à sua história, tomamos conhecimento do submundo do futebol, das peneiras, onde os esquemas ditam as regras. E Reginaldo (Kaique de Jesus Santos), o único negro dos irmãos, se vê “rejeitado” por sua condição racial e é persistente na empreitada de conhecer seu pai. Tem como maior sonho dirigir um ônibus.

Linha de Passe merece sua atenção dado que nunca é demais lembrar a caótica situação porque passa a maior parte de brasileiros neste país, ainda que muitas vezes esta realidade nos pareça algo muito distante - muito embora esteja logo ali. O filme traz a realidade nua e crua, doa a quem doer.

São brasileiros vítimas de um sistema cruel [e vigente!], que concentra a riqueza na mão de pouquíssimos, cabendo aos demais a árdua labuta, com seus vencimentos irrisórios.

Linha de Passe é um soco no estômago necessário e imperdível.

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* Premiada na categoria “Melhor atriz” em Cannes, 2008.

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O ceticismo dá o tom - "Notícias de uma guerra particular"

Notícias de uma guerra particular (1999) é um louvável registro documental de Kátia Lund e João Moreira Salles.

Tido como um dos melhores filmes brasileiros contemporâneos pela Revista de Cinema e vencedor da competição nacional de documentários do festival É Tudo Verdade, Notícias de uma guerra particular precede o famigerado e polêmico longa de sucesso Tropa de Elite, de José Padilha. A diferença entre ambos é pouca. De início, a primeira diferença é óbvia: um é documental, ao passo que o seu sucessor é ficcional. Ademais, na obra de Lund e Salles, são ouvidas as três partes envolvidas nesta ininterrupta guerra, quais sejam: os bandidos, a polícia e, claro, o morador. Cumpre, portanto, seu papel social e jornalístico plenamente.

Em Notícias.. não há nada muito diferente de tudo que já vimos por aí. O que assusta, sim, são os relatos dos bandidos, impiedosos, frios. De resto – mas nem por isso menos importante –, o documentário traz à tona os conhecidíssimos problemas que cercam aqueles menos desfavorecidos: salários irrisórios que não lhes permitem almejar nada além de sua própria subsistência (ainda assim, com muita dificuldade!), invisibilidade social etc. Apresenta, ainda, as motivações destes humildes jovens ao se aliarem ao “movimento”. Aqui está sabidamente a questão do status, salários exorbitantes e por aí vai...

O documentário nos revela ainda o viés ideológico do Comando Vermelho, em seu início, propagado por um de seus fundadores: “Gordo”.

São levantadas questões importantes ao longo dos 57 minutos de projeção, como a corrupção da polícia. É inquestionável: a polícia é notoriamente corrupta. No entanto, esta mesma sociedade que a crucifica, teria interesse de ter uma polícia isenta? Eu duvido.

Depoimentos polêmicos – mas nem um pouco absurdos – do então chefe da Polícia Civil, Hélio Luiz, dão o tom cético do absurdo que vivemos ontem, hoje e, concluiu o documentário, sempre.

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terça-feira, 11 de agosto de 2009

Cama de Gato

Quase que documental, Cama de Gato (2002), o longa dirigido e assinado pelo estreante Alexandre Stockler, é um retrato [comprovadamente] fiel da juventude classe média do país. Pseudo-intelectuais hipócritas que cospem filosofias baratas e pouco sustentáveis - sequer seguidas pelos próprios, vale lembrar.

Cristiano (Caio Blat), Gabriel (Caian Baladez) e Chico (Rodrigo Bolzan) são jovens de classe média, fiéis amigos que, em busca puramente da diversão pela diversão, se envolvem numa tragédia sem precedentes.

Cama de Gato é aturdidor. Com cenas chocantes e situações aparentemente (!) inconcebíveis [tamanha é a absurdeza], incomoda e segura até o final o mais indiferente dos seres. Stockler, portanto, acerta em cheio em sua estréia, com sua cinematografia do absurdo, mesmo com seu irrisório orçamento – aproximadamente R$ 13 mil. Não apela. Dosa magistralmente cada seqüência, a fim de que não soe meramente apelativo ou vulgar, associado a uma trilha escolhida a dedo.

Ao aceitar participar de ousado projeto, Caio Blat emplaca mais uma destacável atuação no cinema.

Os discursos finais só reforçam o até então aparente absurdo, que a trama nos apresenta ao longo de seus imperceptíveis 92 minutos.

Ratifico, por fim, a opinião de Sérgio Dávila que ilustra a capa do DVD, quando diz: “Se for assistir a apenas um filme brasileiro neste ano, assista Cama de Gato...”.

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Mais do mesmo - "Ele disse, ela disse"

Imaginemos um casal de jornalistas. William Bonner e Fátima Bernardes discutindo suas opiniões divergentes e/ou conflitantes em um programa só deles. Este é o cenário – ou se propunha a ser. Com um roteiro - de Brian Hohlfeld – interessante e original, Ele disse, ela disse (He Said, she said, EUA, 1991) infelizmente não é nada além de (mais) uma comédia americana, isto é, um longa com momentos parcos e esparsos de alguma graça.

Não obstante ser do século passado, o longa demonstra a fragilidade americana recorrente para tratar do gênero ao qual julga pertencer - comédia. Ao que parece, desde sempre o cinema americano é totalmente exíguo, imutável no que diz respeito às suas limitadíssimas, e por isso previsíveis, piadas. É com pesar que chego a esta conclusão, já que Ele disse, ela disse, pelo que apresentava em sua sinopse, parecia ser realmente diferente. Foi, no entanto, mal explorado, tratando pouco do que propagou de fato; com incessantes flashbacks e, como não poderia deixar de ser, com seu devido e calculável happy end.

A título de curiosidade, vale notar Kevin Bacon no papel de um cômico galã e a belíssima Sharon Stone como coadjuvante. Fora isso, nada de novo no front.

OBS.: Se quiser assistir ao longa em questão, mas tiver dificuldade em encontrá-lo, fique tranqüilo: aposte em nomes conhecidos [e fadados] do gênero (Adam Sandler, Ben Stiller, Cameron Diaz ou ainda Jennifer Aniston) e não terá nada diferente, mesmo depois de quase duas décadas.

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O Ano Em Que Meus Pais Saíram de Férias

O Ano Em Que Meus Pais Saíram de Férias (2006), de Cao Hamburguer, é um filme nacional, ambientado no Brasil da década de 70, que aborda a ditadura pelos olhos de uma criança – Mauro, interpretado por Michel Joelsas.

Mauro é uma criança tipicamente brasileira, i.e., fanático, aficionado por futebol que, por conta da ditadura, perde seus pais, exilados, temporariamente. Vale alinhavar aqui: apesar da ditadura, o país parecia incólume, dado que respirava o Mundial do México.

A primeira frase da obra é emblemática: “...O goleiro fica sozinho, esperando pelo pior.”

Não obstante o ritmo moroso, tal qual o cinema europeu, O Ano Em Que Meus Pais Saíram de Férias não chega a cansar. Pelo contrário, quando se aproxima disto, eis que tem início a Copa do Mundo de 70 – mais um tema abordado na obra, com preciosas imagens da vitoriosa trajetória brasileira no torneio. O que marca a linha do tempo, aliás, é a Copa do Mundo.

Há de se lamentar o desnecessário (e demasiado!) hebraico, sem legenda!, proferido por alguns personagens ao longo da trama. Ininteligível.

Uma cena que merece destaque é uma onde o pequeno Mauro, jogando futebol de botão, retira o goleiro da meta. O diretor Cao nos parece pontuar: o goleiro, que no início esperava sozinho, agora não mais espera – nem mesmo pelo pior.

O longa conta também com participações ilustres, como as de Caio Blat, Liliana Castro e do falecido Paulo Autran.

O premiadíssimo filme de Cao Hamburguer é sensível e merece destaque. Vale o seu tempo.

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Elefante

Um ano após o ótimo e esclarecedor documentário de Michael Moore (Bowling for Columbine, 2002), Gus Van Sant apresenta seu aclamado longa Elefante - aquém do documentário que lhe inspirou - descrito na contracapa do DVD como “baseado parcialmente na tragédia de Columbine (...)”. Ao longo da trama é perceptível o que lhe rendera o advérbio.

Em Elefante, Gus Van Sant nos oferece um leque de possibilidades e motivações que levaram Herris e Klebold a cometer a famosa chacina no Instituto Columbine, no Colorado, em 1999. Algumas dessas possibilidades foram, inclusive e pouco depois do ocorrido, cogitadas. Outras, porém, sequer ventiladas – como o relacionamento ou mesmo a homossexualidade dos dois assassinos - apresentada na obra. Aqui, me parece, Van Sant faz transparecer, por mais uma vez, nada além de sua opção. Neste aspecto, pois, o artista peca. Além deste pequeno culto à sua personalidade – o que já era observado por Hegel à sua época – e levando em consideração todo o desfecho da história, aquilo que talvez tenha sido usado para propagandear a igualdade, soa na trama como mais um problema; um desvio de conduta dos jovens.

Por tudo que li e ouvi, esperava (bem) mais da obra – que até traz tomadas interessantes, flashbacks ricos e esclarecedores etc. Elefante, entretanto, não pode ser ignorado.

De mais interessante, o longa traz seu nome – que desperta curiosidade quase que imediata
, que advém de frase do escritor irlandês Bernard MacLaverty, que disse que problemas com jovens são como ter um “elefante na sala de jantar e fingir que ele não existe.” Não obstante a bela referência, Elefante está longe de conseguir nos causar a reflexão que a obra documental de Moore consegue.

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Clichê do clichê - "Um salão do barulho"

Com um elenco recheado de nomes conhecidos do público (como Queen Latifah, Alicia Silverstone, Andie MacDowell, e Kevin Bacon), Bille Woodruff – mais conhecido por seus trabalhos em clipes – investe em seu segundo longa. Em vão.

Gina (Latifah) é cabeleireira empregada de um salão fino, cujo dono é o rigoroso e soberbo Jorge (Bacon). Insatisfeita com seu chefe, Gina resolve abrir seu próprio salão.

Não se engane.
Um salão do barulho (Beauty Shop, 2005) é mais um típico filme Sessão da Tarde. Recheado de clichês à vontade, o filme é salvo pela impagável atuação de Kevin Bacon na pele de um cabeleireiro homossexual. Woodruff economizaria bem mais se contasse apenas com Bacon para seu filme e, ainda assim, obteria o mesmo resultado. Alguém duvida?

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Antes de Partir

Antes de Partir (The Bucket List, 2007) de Rob Reiner é, antes de tudo, um filme sem protagonista. Morgan Freeman e Jack Nicholson têm atuações magistrais – como era de se esperar, diga-se. Todavia, caso haja a necessidade irremediável de se considerar a figura do personagem principal, há de se considerar ambos; e todas as demais figuras do filme, pois, meros coadjuvantes.

O filme trata de um tema tabu (e com o qual achamos saber lidar: a morte – neste caso, com dia e hora marcada), através de duas figuras opostas, ainda que complementares (Yin Yang?). Edward Cole (Nicholson) é um repugnante magnata, dono de hospital, arrogante e aparentemente auto-suficiente; Carter Chambers (Freeman) tem sua riqueza concentrada em seu intelecto; fora um inteligentíssimo professor universitário que logo cedo teve de deixar, a contragosto, o magistério. Sem opção, Carter acaba em uma oficina mecânica.


O destino une-os no hospital de Cole – ambos com doenças terminais – e, assim, a trama envereda.

Conquanto não seja a novidade da estação,
Antes de Partir nos toca, ensina. Merece ser visto. Nem que seja para admirar a atuação de seus, por que não dizer?, protagonistas.

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segunda-feira, 3 de agosto de 2009

A Era do Gelo 3

A Era do Gelo 3 (Ice Age 3: Dawn of the Dinosaurs) é uma aventura dos famosos personagens (Diego, Sid etc.) em uma nova “era”: a Jurássica. Uma pequena incursão – forçada – da Era do Gelo para a Era Mesozóica, onde têm o prazer de conhecer uma figuraça da trama: Buck – uma doninha caolha que faz o elo entre as duas Eras, nos rendendo boas risadas ao longo da animação. A vida paralela – mas nem por isso alheio ao filme – de Scrat, o esquilo com seu amor doentio por uma noz, segue sendo explorada e é incrementada por uma fêmea, satirizada magistralmente pelo diretor.

O filme evolui tal qual a trilogia (e, claro, a reboque evolui o excelente animador e diretor, brasileiro!, Carlos Saldanha). Não há distinção de idade. É filme para a família inteira. Dos filhos aos avós.

Além da direção e da animação, o traço genuinamente nacional do longa está presente nas, nem um pouco escassas, piadas e, aos mais atentos, em tiradas futebolísticas dissimuladas. Por tudo isso, A Era do Gelo 3, me parece o melhor da, até então, trilogia. Posso estar sendo enganado pela minha frágil memória. Mas, por ora, esta é minha opinião. Vale o ingresso.

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