Drive, Inquietos e As canções
Para
fechar o ano com chave de ouro, nada como aproveitar aquela saidinha do
trabalho mais cedo para ir ao cinema. E para os apreciadores desta arte que souberem procurar, poderão desfrutar de grandes filmes em cartaz. Este post
tentará fazer um comentário breve sobre 3 filmes lançados neste ano de 2011 feitos para agradar o grande público com estilo. Quando digo que foram feitos
para agradar me refiro ao fato das histórias serem conhecidas, os famosos clichês. Entretanto, nas mãos das pessoas certas se
transformam em obras interessantes e de qualidade. São gêneros distintos,
públicos distintos, mas que trazem a marca do seu criador.
No
caso de Drive do diretor Nicolas Refn, vemos um filme de ação que poderia cair
na mesmice de todos os blockbusters famosos. Na realidade a história é a mesma
que todo mundo já conhece, mas a forma que Refn faz o filme é o que amplia sua
qualidade. Aos que assistiram Bronson (2009) fica evidente as semelhanças e as
preferências do diretor na construção de seus filmes. Drive reúne o que há de melhor nos filmes de
ação e ainda relembra os clássicos dos anos 70 e 80. Isto fica evidente logo no
início quando nos deparamos com a apresentação do letreiro, onde a fonte é
cursiva e rosa. É inevitável que o espectador seja arremessado diretamente
ao passado e relembre de Footloose e Dirty Dance. Para corroborar esta ideia,
ouvimos a trilha sonora retrô que acompanhará o filme inteiro. Em tempos de
filmes de ação com franquias sem fim como Velozes e Furiosos, fico feliz em
poder assistir algo atual que revisita o gênero.
O filme é violento, o que
causa um pouco de repulsa ao público que não gosta de ver sangue na tela, mas
adora enfiar a cabeça pela janela do ônibus quando há algum acidente na estrada
(e o pior: o sangue neste caso não é cinematográfico). Refn consegue fazer um
filme sofisticado com a atuação de Ryan Gosling, que dá ao personagem um ar
blasé, inspirado por uma miscelânea de “heróis“ do cinema, como: Don Corleone (pela
voz), Travis Blake (pelo deslocamento social) e Stallone Cobra (pela pose e o
palito de dente na boca). A fotografia é assinada por Newton Sigel que carrega em seu currículo outros action movies famosos.
Em
Inquietos a história é mais do que repetida. Já vimos muitos casais apaixonados
no cinema, sejam com finais tristes ou finais felizes. Embora este casal pareça
esquisito por se conhecerem em um funeral, eles apenas existem para nos lembrar
de como a vida é repleta de amor e morte. E isto parece ter sido visto em “Um
amor pra recordar” que arranca lágrimas infinitas de muita gente até hoje. O
mais apaixonante de Inquietos não é o casal que se forma e sim a maneira que
Gus Van Sant conta a história com a ajuda do fantasma Hiroshi. O diretor se
apropria da história clichê de amor, distorce levemente os personagens
principais para causar um pequeno incômodo e por fim, tudo isto serve para que
ele desfile suas habilidades cinematográficas. A matéria prima de Van Sant é a
própria natureza. É nela que ele se debruça em seus belos planos. Esta relação
não é meramente estética, aqui a natureza afirma a presença da morte e
simultaneamente da vida. Embora o clima seja outonal, as árvores e os insetos
sejam coloridos, eles carregam um ar sombrio reforçado pela fotografia. A
beleza de Mia Wasikowska deixa o longa hipnotizante, somado ao humor do
personagem de Ryo Kase (Hiroshi). Gus Van Sant abranda o clichê com seu estilo.
Com
As canções de Eduardo Coutinho nos sentimos em casa. Para aqueles que conhecem
o trabalho do mestre é fácil reconhecer sua forma de documentar o mundo.
Coutinho mais uma vez utiliza como fonte a história oral e consegue criar um
documentário brilhante. Desta vez as pessoas contam suas histórias a partir de
uma música que marcou suas vidas. Cada personagem canta a música que o marcou, e
Coutinho em nenhum momento utiliza de trilha sonora como apoio. Isto torna o
filme cada vez mais profundo, onde cada canção cantada ganha uma significação
diferente de acordo com a história referente. O diretor mais uma vez exalta a
importância da oralidade resgatando histórias de pessoas comuns, misturando
magistralmente arte e vida. Coutinho é brilhante mais uma vez transformando a
fugacidade da oralidade em registro consistente.
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