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quinta-feira, 3 de novembro de 2011

A pele que habito


Brilhante, mil vezes brilhante. Não tem nada a ver com ser fã de Almodóvar, mas sim em reconhecer a genialidade de alguém. Significa afirmar a qualidade de um diretor que está a algum tempo produzindo e ainda consegue nos surpreender com injeções de novidade. Que experiência maravilhosa foi assistir A pele que habito. Eu sei que estas palavras estão carregadas de paixão, mas não há como escrever de outra maneira. Dessa vez, Almodóvar carrega sua paleta de cores para um tom mais sombrio onde predomina o azul – já muito usado em filmes policiais – e o vermelho que é sua marca registrada. A mulher continua sendo uma figura insubstituível, mas aqui não importam mais os gêneros, vamos além, no que há de mais profundo no ser humano. O amor, a vingança, a ambição lutam por seu espaço.

Durante a trama visitamos o passado do protagonista interpretado por Antônio Banderas e a partir dos flashbacks podemos enxergar o presente com mais clareza. Cada volta ao passado muda completamente a perspectiva sob a história e isso torna o filme muito emocionante. O público vai ficando cada vez mais íntimo da película, deixando sua superfície e revelando aos poucos a escuridão desta novela de Thierry Jonquet. O passado do brilhante cirurgião plástico é assombrado por uma tragédia e a partir daí ele passa a se dedicar à criação de uma pele sintética resistente a qualquer tipo de dano. Para isso ele mantém presa em sua mansão uma paciente que é vítima desta obsessão e testes incessantes.

Não contente em se inspirar na novela de Jonquet, o diretor faz referências pontuais, colocando em seu cenário uma Vênus gigantesca – representação clássica da mulher ao longo da História da Arte –, especificamente a “Vênus de Urbino” pintada por Tiziano, um dos grandes nomes do Renascimento. Não obstante, coloca ao lado do clássico renascentista a artista Louise Bourgeois* (1911 – 2010) que explora em seu trabalho (brilhante) as subjetividades do “eu”.

A parte técnica de Almodóvar é sempre impecável, salvo os filmes de começo de carreira que seguiam uma linha underground por motivos óbvios. Este texto merecia ser detalhado devido a grandiosidade da obra. Entretanto, paro por aqui na esperança que os que me lêem e ainda não puderam assistir, assistam e consigam atingir o mesmo grau de excitação que eu alcancei. Fica aqui este comentário minúsculo acerca da imperdível obra-prima criada pelo diretor espanhol.

*Louise Bourgeois está exposta no MAM (Rio de Janeiro) no período de 16 de setembro a 13 de novembro de 2011. Vale a pena conferir.

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2 Comentários:

Blogger Diego Mesquita disse...

Eita... sua crítica tá na linha da do Rodrigo Fonseca (crítico do Globo que mais admiro), hoje, sobre o mesmo filme.

Não vi o filme ainda, mas perceber que tocou em pontos semelhantes, prova o quanto você entende da obra de Almodóvar.

Parabéns!

3 de novembro de 2011 às 12:01  
Blogger daparafuseta disse...

AH! Obrigada! Me envia se puder, queria ler :)

3 de novembro de 2011 às 12:34  

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